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Faxina

Passei batido pela onda Marie Kondo. Sabendo a bagunceira que sou, já saberia que não daria conta da maneira xintoísta de encarar os objetos na vida. Minha família, ao contrário, teria encarado muito bem. Fui vendo descartes ao longo da minha história: fotos, livros, roupas, brinquedos. E isso sempre me doeu, devo ter uma personalidade acumuladora, confesso. E, o que posso, guardo. Vou revisando meus arquivos ao longo dos anos. Demorei para desapegar das apostilas e cadernos na faculdade, depois de mais de 10 anos ainda me vejo com alguns. Cartas antigas, cartões de natal… Só esse ano fiz uma escolha entre os que iria manter e o que faria voar para a reciclagem. Fotos, fotos, fotos. Comprei álbuns, organizei. Pela primeira vez, ex-namorados foram ao lixo, demorou mas desapeguei. Mas ainda assim, tenho pilhas e pilhas de papel, livros e coisas. A cada nova faxina, sacos e sacos. E restam escombros. Vou tentando organiza-los, mas é sempre uma organização de caos e pilhas, sedimentos de uma vida pré-40.

O que importa

A grande questão da falta de sentido e da inadequação. Não, não sou adolescente. Inclusive, nem tinha essas questões de adolescente. É uma questão de pré-40, pós-25, da adulteza. Eu não vejo graça no que todos amam, em conquistas e fotos de viagens. Eu gosto de companhia mas me vejo cada vez mais sozinha e isolada porque…. porque não tenho as conquistas que me fazem ser quista como companhia pela maioria das pessoas que convivo. Mas, claro, a solidão não é a todo momento, há outros que dividem comigo o vazio da vida atual, 5 ou 6 pessoas eventuais. E não sei como se chega a isso, a conclusão do vazio e do nada. Foi por não me importar com o que dizem ser importante? É uma suspeita, acho que sim. De qualquer forma, não me arrependo apesar… apesar de ser uma posição completamente desconfortável.

Leia se quiser

confissões em 6 de junho

Um blog é um blog. Não é um diário, não é um confessionário. É um suporto público, quase uma vitrine. Minha insistência em fazer blogs há pelo menos 1o anos é a simples necessidade de ser lida. Uma necessidade que é, claro, uma vaidade.

 

Mais uma vez. Dançando o amor solo.

 

Cais

Eu planejo pouco e mal. Tenho um traço mal traçado na mente e vou, meio me perdendo, meio me guiando. Pergunto muito para os outros onde estou, para onde vou. Mas, no final, são as minhas pernas e a intuição que me encaminham. Já me encontrei em becos no centro de SP que me pareceram o Haiti pós-terremoto. Já cai em antiquários onde famílias pós-ricas faziam inventários. Já fui ao teatro com um hippie na rua, já andei no cais do porto. A gente segue, meio inseguro, meio rindo. Se te parar para perguntar algo, não me mande para onde vc não iria comigo.

O que ouço

A vida como spoiler: Reflexões sobre KES de Ken Loach

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Me perguntaram numa rede social se já havia visto Kes. Claro que já vi Kes! Vi e ainda não me recuperei muito bem. Vou usar o Imdb para resumir a história: A young, English working-class boy spends his free time caring for and training his pet falcon. É isso, working-class boy, working-class hero. Billy só tem uma coisa a favor dele: a infância. Como um working-classe boy da década de 1960, Billy tinha a liberdade de perambular. Sempre foi perigoso, mas se ignorava isso com mais frequência.  A liberdade, a curiosidade e inteligência o levaram ao encontro com Kes, um falcão.

Até este momento, Billy é um estorvo para todos: colegas, família, escola. Mas o encontro com Kes é o seu voo para a humanidade plena. E, daí, me peguei não mais me comparando com Billy… mas com o seu professor. Sim, o filme evoca a figura do professor que não é um peso-morto na vida de um working-class boy.

‘Como estrelas na terra’, ‘Sociedade dos poetas mortos’, ‘Escritores da liberdade’. Histórias reais ou fictícias. Há sempre o professor salvador de almas, almas sedentas por conhecimento mas que eram mal compreendida, subestimadas, mimadas. O professor, essa figura com uma vocação para o martírio profissional… que pega os alunos pela mão e os conduz… zzzzz….

Em Kes, o professor percebe que Billy tem um tesouro escondido. E observa o garoto que não é ninguém excepcional… é um working-class boy, que será working-class e fim. Ele vê o garoto apaixonado pelo conhecimento… um conhecimento que lhe interessa porque é maior do que ele. Todo menino é um rei.  Billy é rei com Kes. Nada de working-class… Billy e Kes são senhores de seus territórios, não há fronteira e o horizonte é todo deles. Porque na infância a gente se deixa voar assim… E o professor teve esse olhar. ‘Aluno como protagonista do próprio conhecimento’… Rapaz, a gente tem que ser protagonista da nossa vida para depois sermos protagonistas do nosso conhecimento! E Billy chega a isso observando a natureza. Não tem coisa que expressa melhor o sentido da vida do homem no mundo do que isso. A gente é natureza, tem que ser natureza. O professor pede para Billy dar uma aula sobre tudo o que ele aprendeu sobre Falcões. Billy dá a aula… não de maneira professoral, porque ensinar não é nada de mais… não te faz especial. Ensinar é humano, demasiadamente humano. Tem a ver com toque, contato, voo. Billy entendeu tudo, o professor entendia com ele… a sala fica pasma frente ao garoto que não era bom em nada… working-class hero, working-class kes.

Só que existe algo… não é determinismo. É vida. É a vida do working-class boy que precisa se tornar working-class. Kes se torna ‘just a bird’. A gente é estapeado pela mãe de Billy como esta ‘verdade pragmática’. Como fomos estapeados pelas nossas mães em alguns momentos ou por algum chefe no trabalho ou pela escola. O normativo, o esperado, como temos que ser e nos conduzir. Não há espaço para Kes. Kes e sua grandiosidade divina vão para o lixo. Porque é ali que o que há de grande em nós vai parar para quem é do working-class. O professor? Ah, o professor… ele não tem como parar isso. Ele é SÓ um professor, sabe? Não é onipresente, onipotente e nem oniciente. Você pode fazer o exercício e pensar que o professor consolaria Billy, faria ele procurar treinar outro falcão e zzzzzzz… O professor não dá conta de Billy-Kes. Nunca dará.

É Billy que pegará o corpo de Kes e lhe dará dignidade. A dignidade do funeral. Isto, que herdamos dos primeiros homens. Somos seres-humanos e como tais enterramos nossos mortos. Porque não somos indigentes, nem um indigente é indigente. É preciso um rito, uma despedida, um encerramento. Billy enterra à Kes. O rito é uma resistência. Não somos enterrados nele, recusamos que Billy-Kes vá ao lixo.

Mas, quá, despertei.

Desejo essa música ao futuro

O melhor

Agir, agir, agir, pensar rápido!!

Foi numa propaganda de perfume que vi? Acho que já tinha essa imagem na cabeça há alguns anos, não tantos: desvencilhar-me.

Desfiz-me, eu que fui nó.

Meus braços, livres. Meu cabelo, solto. Minhas pernas, fortes.

E corro para além do que eu mesma esperava de mim.

Não me esforço, me revelo. Faço meu melhor e depois me retiro.

Sou lenta, sonolenta, terna, eterna em mim mesma.

Não tenho obrigação de ser. Sigo viva para além.de.vc.

Sereiando

Você não me perguntou, nêga, mas eu acho é que a gente devia era andar descalças e, de pé sujo, rasgar esta cidade.

Abrir os braços… como rainhas, ter ouro em nossa pele, crescer, gigantes…Monstruosamente japonesas, deusas, deusas… com muitos braços a abraçar e destruir e amar e carpir.

A gente, é!, devia ficar pequeninha. Menina. Inha. Inha. E ver a vida da janela, namoradeira. Cachos e cachos. Despenteadas em flor. Rir e rir, neguinha.

Eu acho, só acho, que a gente tinha é que morar no mar. Sair e voltar. Sem esperar. Levar com a gente quem quiser ir. Deixar quem não se deixa iludir. Sereiando por ai, na carícia da onda.

Eu só quero, e como quero, fundir-me com o bem e a beleza de tudo isso. Seria bacana, nêga, se viesse também. Mas eu acho. Só acho. E, como disse, você não me perguntou nada mesmo.

Para parar o trem...

Boas idéias para fugir dos grandes agitos...

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literatura, política e psicanálise

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Pedra Sobre Pedra

Um blog para memória e reflexão, com outro olhar sobre as coisas do cotidiano.

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